No dia 20 de junho, foi publicado no jornal Diário de Notícias, o artigo "Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal", escrito por Manuel José Guerreiro, Presidente do Conselho de Administração da Caixa Agrícola de Torres Vedras e Vice-Presidente da Federação Agrimútuo.
Somam-se os rumores de que não será reconduzido no Banco de Portugal, mas é precisamente nestas circunstâncias que quero afirmar o óbvio: Mário Centeno provou, nos últimos anos, ser um dos melhores portugueses. E, em tempos tão imprevisíveis, parece-me um erro abdicar de alguém que provou saber navegar em mar alto.
Luís Montenegro terá certamente a sua decisão tomada, mas lembro-lhe que momentos de turbulência social e económica requerem homens esclarecidos, independentes e objetivos. E lembro também que até Salazar escolheu para perto de si homens que não tinham as mesmas orientações políticas, como Adriano Moreira e, sobretudo, Duarte Pacheco. Naquele tempo histórico, difícil para o Estado Novo, a "ousadia" fortaleceu-o a si e ao regime.
Recordo o gozo de muitos quando Centeno apresentou, sendo um ilustre desconhecido da opinião pública, o plano de recuperação económica que ancorou um novo ciclo político. Foi achincalhado, mas revelou-se insuperável - restituiu a confiança e a autoestima, deixámos de estar no lixo das agências de notação, resgatou a CGD de uma descapitalização anunciada, travou o desmoronamento sistémico motivado pela queda do BES e trouxe-nos um superavit que alterou o paradigma da política portuguesa.
Wolfgang Schäuble chamou-lhe "Ronaldo das Finanças" e uma larga maioria de governos europeus escolheu-o para liderar o Eurogrupo. Já como Governador do BdP foi uma voz independente e reforçou uma equipa que, do ponto de vista técnico, foi a mais preparada do que nunca para cumprir os objetivos micro e macroprudenciais. Além disso, os bancos capitalizaram-se, as empresas capitalizaram-se e desceu o terrível rácio de incumprimento (NPL) contrariando a ideia de que o país estava condenado a um perpétuo atraso face à Europa.
Mário Centeno é um homem bom, de sorriso largo. Na semana passada aceitou o meu convite para a comemoração do aniversário da Caixa Agrícola de Torres Vedras, a sua terceira presença. Da primeira vez, chegou atrasado por estar numa reunião no Eurogrupo. Da segunda, veio diretamente de Frankfurt e adiantou-se na hora para saldar as contas do "atraso". E há uns dias voltou a não faltar, apesar de ser a véspera da apresentação do Boletim Económico Trimestral e o dia em que a sua mãe completou 90 anos. Ele quis um Banco de Portugal próximo que interagisse com os regulados e cumpriu, contrariando uma ideia falsa de que os reguladores, para serem independentes, têm de estar enclausurados. Essa é a sua marca.
A perda de memória torna-nos bárbaros ou simplesmente tolos. Não quero ser uma coisa e a outra. Aconteça o que acontecer, Mário Centeno tem a minha amizade e nunca esqueceremos um gesto repetido que nos responsabiliza a continuar nesta linha de enorme crescimento sem perda de uma identidade que vive da partilha com a comunidade, do cooperativismo e de uma ideia de bem.
Presidente da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras
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