No ano em que se comemora, por iniciativa da ONU, o Ano Internacional das Cooperativas, quis através do Diário de Notícias partilhar a minha visão sobre este tempo complexo e desafiante que impõe respostas novas, algumas já testadas e anteriormente pensadas.

Uma visão que espero possa ter o vosso valioso contributo, a soma de pensamentos é mais valiosa quando resulta da troca de ideias e até do conflito de pontos de vista.

Sabemos que é um tempo complexo, incerto e mais imprevisível do que a imaginativa distopia poderia prever. É a força da ciência e da tecnologia a atuar. O futuro, sob o olhar do presente, paradoxalmente, ainda será mais disruptivo e mais perigoso na ausência de regras e de cultura.

Suportado nos valores do humanismo e do cooperativismo, com o apoio de ideias enriquecidas no debate, preconizo que juntos podemos ir melhor e mais longe através da cooperação em detrimento da competição desenfreada que provoca exclusão.

Em 1915, 14 cidadãos da então vila de Torres Vedras como sucedeu noutras partes do país, fundaram um banco mutualista procurando, assim, aceder ao sistema financeiro otimizando a poupança local em investimentos reprodutivos na região. Souberam-no fazer com eficiência e eficácia. Fizeram-no uns com os outros, confiando uns nos outros, garantindo a sua palavra, o seu nome, a sua honra.

Na banca como na natureza não se vive sem confiança… e acrescento, sem uma ideia de proximidade efetiva. Perderam-se referenciais de confiança, fecharam-se balcões e alargou-se a distância física para os clientes. Hoje, facilmente concordamos que a palavra e a honra valem menos do que o algoritmo.

A tecnologia fundamental no presente e no futuro, começa agora a preocupar-se para ser pensada tornando mais próxima e humana a relação da banca com as pessoas e as empresas , é a humanização do digital. " Não há clientes de bancos mas bancos que têm clientes".

Este é um tempo em que a tecnologia disponibiliza instrumentos de comunicação competitivos. Os dados e a imagem podem circular em tempo real a custo zero. Mas o custo do isolamento, da solidão e da exclusão nunca foi tão elevado. Na verdade, tende-se a promover ainda a distância entre muitos.

A inteligência artificial não substituirá o homem, mas o homem nativo no digital será um homem diferente .

O sistema financeiro incorpora, sempre, a evolução tecnológica. A procura de competitividade obriga a analisar cada vantagem. E desvantagem.

Para alguns o valor da confiança é calculado pela informação de dados. O valor do trabalho é valorado pelo custo do hardware e do software. O valor da competitividade é projetado pelo número de despedimentos.

Mas para as partes interessadas do banco cooperativo, o atendimento com pessoas, em balcões, é assim uma vantagem comparativa.

Ao longo das próximas semanas, escreverei acerca do mundo, do país, do sistema financeiro, dos bancos e dos banqueiros, das caixas agrícolas, dos mares nunca navegados e também dos paraísos perdidos e infernos prontos a sair-nos ao caminho. Talvez este seja o tempo mais extraordinário da nossa história, certamente o mais desafiante das nossas histórias, da história de cada um de nós. Que saibamos, uns com os outros, como pioneiros da banca mutualista, encontrar caminhos no sentido do bem-comum. O dinheiro pode ser multiplicado a partir de uma ideia de Bem. A banca mutualista tem o enorme desafio de o evidenciar. Tentarei dar o meu contributo abrindo "Mundos Novos".

Presidente da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras

manuel.guerreiro@ccamtv.pt